4 de agosto de 2010

Sindsep apresenta: Circuito Trabalho na Tela


O Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado do Maranhão (Sindsep/MA), começa a partir de amanhã (5), o projeto Circuito Trabalho na Tela, que faz parte do Projeto Vidas Paralelas.

O evento irá acontecer toda primeira quinta-feira de cada mês, com exibição de filme que terá como pano de fundo a questão da saúde do trabalhador.

É importante que todos os filiados do Sindsep/MA e demais trabalhadores maranhenses, venham a participar dessa atividade, o que ratifica a vigilância de todos com a questão da saúde do trabalhador. De acordo com a resposta apresentada nesta primeira exibição, o Sindicato poderá estender a atividade para todas as quintas-feiras, sempre com um filme que envolva a temática do trabalhador.

Nesta tarde acontece a primeira sessão, com a exibição do filme Motoboys – Vida Loca, que fala do cotidiano desses trabalhadores que correm sérios riscos em seu dia, enfrentando o trânsito assassino da maior metrópole do Brasil, São Paulo (mais informações sobre o filme no verso do jornal).

Exibição de filmes com essa temática e uma análise feita sobre a questão, logo após o documentário, mostra que o Sindsep/MA tem essa questão como foco principal de diversas discussões, e observa esse projeto como uma oportunidade de estender essa preocupação além “muros” do movimento sindical.

O Circuito Trabalhador na Tela, irá acontecer na sede do Sindicato, Rua Newton Bello nº 524, Monte Castelo, sempre às 18h.

Motoboys - Vida loca

Marcelo Hessel

Como resolver o trânsito de São Paulo? Como impor limites aos motoboys? Como acabar com a selvageria dos entregadores sem prejudicar a rotina da "cidade que nunca pára"?

Se você procura respostas, não as encontrará no documentário Motoboys - Vida Loca (2003), escolhido como o melhor da sua categoria na Mostra Internacional de São Paulo. O primeiro grande triunfo do média-metragem de estréia de Caíto Ortiz é não tentar abraçar o mundo. Antes disso, é preciso desmanchar preconceitos, expor todos os fatores que contribuem para o caos, revelar a complexidade do problema. E isso os seus 52 minutos fazem com transparência e sobriedade.

Mais urgente, por exemplo, é entender que sem os entregadores sobre rodas - fenômeno urbano que há anos substituiu os pedestres officeboys - a máquina financeira, estatal e social acaba engessada. É entender que a maioria dos quase 300 mil motoboys de São Paulo não têm registro, benefícios ou direitos. É saber que o governo estadual perde 200 milhões de reais por ano com acidentes de trânsito envolvendo as motos. Mais importante que antecipar conclusões é saber que a metrópole mata dois motoqueiros a cada dia.



Liberdade

O filme fornece os dados e busca o lado humano. Ortiz alcança um segundo grande êxito ao arrebanhar, num número pequeno de entrevistados, uma variedade completa de perfis. São quatro motoboys e uma motogirl, mas cada um deles tem as suas motivações, os seus objetivos. Há o pai de família que exerce a profissão há doze anos e preza pela sua segurança. Tem o outro que vara a madrugada nas ruas atrás de uns trocados a mais - mesmo com o perigo de ter a moto roubada pela enésima vez. Há o típico cachorro louco que coleciona cicatrizes e não vislumbra mais do que um acidente mortal num dia de azar. E existe a mulher de meia idade, divorciada, que perdeu um filho, e depende do frenesi constante das entregas para não pensar na própria vida.

Apesar das individualidades, existe uma aura que rege cada um dos personagens. E com o seu ritmo dinâmico, de câmeras postas sobre guidões e garupas, de informações ligeiras jogadas na telona, de trilha sonora antenada feita pelo coletivo Instituto, o filme desenha com desenvoltura essa "vida loca". Mostra que, dentro dos capacetes, há uma genuína manifestação de anarquia. Ver-se apto a voar nos engarrafamentos é fazer parte de uma tribo urbana onipotente num universo onde ninguém mais é senhor do tempo.

Ter uma moto que funcione custa alguns salários mínimos, mas confere status, poder e, principalmente, liberdade. De quebra, o símbolo fálico motorizado configura domínio sobre a mulherada. "É só chegar com uma moto que as minas colam, nem precisa ser bonito", diz um dos motoqueiros, recém-saído da adolescência.



Indignação

Evidentemente há o lado pouco satisfeito dos excluídos e congestionados: não é difícil ver na horda de motoboys que buzinam e que discutem e que quebram retrovisores a personificação de uma irmandade do Mal. Personalidades, pensadores e estrategistas da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) dão o seu parecer diante da câmera. Concordam que a cidade não viveria sem os entregadores, mas se incomodam com os desmandos no trânsito. Esboçam indignação, mas não conseguem visualizar uma solução imediata.

Aos poucos, outro tipo de indignação nos pega. Ortiz informa que o projeto para a construção de uma pista exclusiva de motoqueiros sairia mais barato do que o dinheiro perdido com cada acidente rotineiro. Revela também que havia uma lei no Código de Trânsito que proibia o tráfego nos chamados corredores, as faixas que separam as pistas de rolagem. Mas o governo FHC extinguiu essa cláusula, explicando que ela acabaria com a eficiência dos entregadores. Em outras palavras, praticidade vale mais do que segurança.

Nesse momento, percebemos que a grande culpada é a própria cidade, com o seu crescimento afobado que não segue projetos, com a sua ética deformada que desrespeita habitantes, faz da pressa uma norma e louva a informalidade descartável. Em defesa do bom senso, sem julgamentos, Motoboys - Vida Loca termina, ilumina a questão e dá o seu recado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário