Amigo excelente texto de Maíra Kubík Mano. Bom para uma reflexão sobre vários preconceitos contra a mulher neste seguno turno
"O que a mulher precisa para ter uma carreira política bem-sucedida?"
Já que esse segundo turno está cheio de jogos e truques, proponho aqui mais um. Responda à pergunta abaixo com a primeira alternativa que lhe vier à cabeça.
No Brasil do século XXI, o que a mulher precisa para ter uma carreira política?
a) Ser esposa / filha / sobrinha / namorada de alguém
b) Ser bonita e gostosa
c) Comportar-se como um homem
d) Nenhuma das anteriores
Analisando a realidade, sinceramente, a alternativa “d” seria a única que eu não marcaria, embora a ache a mais correta. Afinal, partindo de um raciocínio bem simples, qualquer um/a que quisesse se tornar um/a representante do povo deveria estar disposto/a, preparado/a para tal e ter legitimidade em sua base social. Além, claro, de apresentar propostas firmes e integrar um partido com o qual tenha identificação ideológica.
Mas não é assim que a banda toca.
Pela primeira vez, temos uma candidata à Presidência da República com chances reais de vitória. E o que ouço por aí? Que ela é “a mulher do Lula”; ou que não é bonita, usa cabelo curto e, portanto, é “sapatona”; e que, no último debate, foi “agressiva demais”. Ou seja, as alternativas a, b e c da enquete acima, respectivamente.
Quanto ao primeiro item, é claro que a responsabilidade recai sobre a própria campanha petista, que obviamente não perderia a oportunidade de colar sua candidata à imagem de um presidente com recorde absoluto de aprovação.
Agora, as outras duas questões, eu não tenho dúvidas, decorrem de toda uma construção social sobre o que é preciso para vencer na política. Aprendemos na escola que, desde a Grécia Antiga, a democracia representativa é um espaço dos homens. Portanto, para conseguir ascender nesse meio, nada mais lógico do que seguir os padrões já pré-determinados e adotar as posturas convencionais a essa função. E Dilma Rousseff não é exceção.
Só que quando a vemos sendo “dura” e “firme” em um debate, estranhamos. Afinal, isso não condiz com o que é esperado de uma mulher: a doçura, a dúvida, a pouca exposição – é assim que nós, mulheres, ainda somos vistas pela maioria da sociedade.
É um grande paradoxo: para chegar ao topo, você tem que ser homem, mesmo que não biologicamente. Só que como não é, para não ser acusada de não se comportar como “deveria”, precisa, ao mesmo tempo, conseguir fazer um malabarismo e passar uma imagem de mãe atenciosa, avó prestativa. Enfim, de “mulher”.
E da contradição saem os inúmeros comentários maldosos e preconceituosos. No próximo domingo (17/10), teremos mais um debate entre os presidenciáveis, promovido pela Folha e a Rede TV. Vamos ver quais serão os comentários no dia seguinte. Aposto na palavra “casca grossa” como Trending Topics do Twitter.
Que tal enxergarmos um pouco além desse horizonte?
Escrito por Maíra Kubík Mano
"O que a mulher precisa para ter uma carreira política bem-sucedida?"
Já que esse segundo turno está cheio de jogos e truques, proponho aqui mais um. Responda à pergunta abaixo com a primeira alternativa que lhe vier à cabeça.
No Brasil do século XXI, o que a mulher precisa para ter uma carreira política?
a) Ser esposa / filha / sobrinha / namorada de alguém
b) Ser bonita e gostosa
c) Comportar-se como um homem
d) Nenhuma das anteriores
Analisando a realidade, sinceramente, a alternativa “d” seria a única que eu não marcaria, embora a ache a mais correta. Afinal, partindo de um raciocínio bem simples, qualquer um/a que quisesse se tornar um/a representante do povo deveria estar disposto/a, preparado/a para tal e ter legitimidade em sua base social. Além, claro, de apresentar propostas firmes e integrar um partido com o qual tenha identificação ideológica.
Mas não é assim que a banda toca.
Pela primeira vez, temos uma candidata à Presidência da República com chances reais de vitória. E o que ouço por aí? Que ela é “a mulher do Lula”; ou que não é bonita, usa cabelo curto e, portanto, é “sapatona”; e que, no último debate, foi “agressiva demais”. Ou seja, as alternativas a, b e c da enquete acima, respectivamente.
Quanto ao primeiro item, é claro que a responsabilidade recai sobre a própria campanha petista, que obviamente não perderia a oportunidade de colar sua candidata à imagem de um presidente com recorde absoluto de aprovação.
Agora, as outras duas questões, eu não tenho dúvidas, decorrem de toda uma construção social sobre o que é preciso para vencer na política. Aprendemos na escola que, desde a Grécia Antiga, a democracia representativa é um espaço dos homens. Portanto, para conseguir ascender nesse meio, nada mais lógico do que seguir os padrões já pré-determinados e adotar as posturas convencionais a essa função. E Dilma Rousseff não é exceção.
Só que quando a vemos sendo “dura” e “firme” em um debate, estranhamos. Afinal, isso não condiz com o que é esperado de uma mulher: a doçura, a dúvida, a pouca exposição – é assim que nós, mulheres, ainda somos vistas pela maioria da sociedade.
É um grande paradoxo: para chegar ao topo, você tem que ser homem, mesmo que não biologicamente. Só que como não é, para não ser acusada de não se comportar como “deveria”, precisa, ao mesmo tempo, conseguir fazer um malabarismo e passar uma imagem de mãe atenciosa, avó prestativa. Enfim, de “mulher”.
E da contradição saem os inúmeros comentários maldosos e preconceituosos. No próximo domingo (17/10), teremos mais um debate entre os presidenciáveis, promovido pela Folha e a Rede TV. Vamos ver quais serão os comentários no dia seguinte. Aposto na palavra “casca grossa” como Trending Topics do Twitter.
Que tal enxergarmos um pouco além desse horizonte?
Escrito por Maíra Kubík Mano
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