Dia 3 de outubro: mobilização nacional. Esta é a primeira ação de massa
aprovada pela Frente Brasil Popular, lançado no último 5 de
setembro, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
A Conferência Nacional de lançamento da Frente reuniu mais de 2 mil
pessoas, entre lideranças e militantes dos movimentos social e sindical,
que lotaram a Assembleia Legislativa. A atividade também contou com a
participação de diversos parlamentares, representantes de partidos
políticos, economistas e intelectuais que foram saudar a iniciativa.
A ideia de se criar uma Frente partiu de militantes dos movimentos
populares, sindicais, de juventude, negros e negras, mulheres, LGBT,
pastorais, partidos políticos, intelectuais, religiosos e artistas -
diante da necessidade de derrotar a ofensiva da direita conservadora e
golpista e propor outra política econômica para o País.
Crise e seus reflexos
A crise política e econômica no Brasil é também reflexo de um processo
mundial de crise do modelo capitalista. A política econômica de ajuste
fiscal adotada pelo atual governo, e medidas impopulares como a redução
de alguns programas sociais, têm dado oportunidade a setores
conservadores da direita, que contam com apoio e a blindagem da grande
imprensa, a imporem sua agenda de retrocesso e de ataque à democracia.
Situações semelhantes acontecem em alguns países da América Latina que
passaram por ditaduras militares e conquistaram a democracia. Como um
filme que se repete de tempos em tempos, os ataques e tentativas de
golpe a governos democráticos-populares evidencia a luta de classes e
têm objetivo claro: enfraquecer o poder popular não só no Brasil, mas na
América Latina e impor a agenda conservadora derrotada nas urnas.
“Queremos construir nessa conferência uma Frente que seja capaz de
responder à conjuntura que estamos vivendo”, diz Beatriz Cerqueira,
presidenta da CUT Minas Gerais. “A prioridade dos movimentos hoje é
construir de forma conjunta uma luta organizada, porque sozinhos, somos
derrotados. Há necessidade, nesse momento, de unificarmos nossas pautas e
priorizarmos nossos pontos de convergência. Fomos aprendendo com o
tempo a construir pautas convergentes e esta Frente é resultado disso”,
destaca.
Segundo João Pedro Stédile, da coordenação nacional do MST - Movimento
dos Trabalhadores Sem Terra, estamos vivendo uma crise econômica e
politica em que a burguesia tem a sua saída para crise e, para
viabilizar o seu programa, que é Estado mínimo, o corte dos gastos
sociais e o realinhamento da nossa economia aos Estados Unidos, tem
usado todos os dias a imprensa, o Congresso e o poder Judiciário. “Uma
parcela reacionária, felizmente minoritária dessa burguesia também acha
que a saída da crise é o golpe. E nós da classe trabalhadora, o que
apresentamos para sair da crise? Na nossa avaliação, desde as
manifestações de março, de abril e no ultimo 20 de agosto, nós
construímos uma unidade conjuntural, porém, ainda é uma unidade
defensiva, que ficou expressa nas bandeiras que nós levantamos - contra o
golpe e a favor da democracia. Ou seja, nós não aceitamos esta
tentativa de uma parcela pequena da direita que quer derrubar a
presidenta Dilma”.
Os movimentos que compõem a Frente também têm unidade na defesa de uma
nova política econômica e de uma reforma política como principal forma
de combater a corrupção. “Nós não aceitamos os ajustes fiscais e medidas
de politica econômica que tirem direitos dos trabalhadores”, diz
Stédile. “Defendemos uma nova política econômica e uma reforma politica
que comece com o fim do financiamento empresarial das campanhas, em
todos os níveis. Não temos medo de debater a corrupção. A corrupção
nasceu do financiamento empresarial das campanhas”, afirma.
Para Carina Vitral, presidenta da UNE - União Nacional dos Estudantes,
os movimentos sociais precisam refletir sobre as origens e sobre os
caminhos pra enfrentar esta crise que vivemos hoje e as tentativas
claras de desestabilização, de golpes contra nossa democracia. São
tentativas não só de derrubar o governo, mas de derrubar o projeto
político que mudou a vida das pessoas nos últimos anos. “Estas
tentativas não atacam só o governo, não atacam só a presidenta da
República, atacam a cada um e cada uma de nós que lutamos para que o
Brasil seja uma nação mais popular, mais justa e de mais direitos”,
denuncia Carina.
3 de outubro: Dia Nacional de Mobilização
Além de aprovar o 3 de outubro como Dia Nacional de Mobilização, a
plenária final da Conferência reafirmou que a unidade construída pelos
movimentos sociais a partir da reação à ofensiva da direita deve ir além
dos desafios da conjuntura, para além das críticas pontuais à politica
econômica. Foi referendada a missão da Frente de construir unidade entre
todas as forças populares.
Para Stédile a unidade precisa ser construída com base em dois pontos
fundamentais: “O primeiro, é um programa. Sem um programa de ideias, de
propostas, não basta fazer reunião. Queremos dar um passo a mais, sair
do conjunturalismo reativo para avançar para propostas programáticas que
possam nos orientar para um novo projeto de país, que vai ser de longo
prazo. A segunda missão é motivar nossa militância para construir um
calendário de lutas de massas permanente”. E alerta: “Não nos iludamos
com o congresso, com o poder judiciário e com a mídia burguesa, que é o
espaço de poder deles, da burguesia. Então, aonde o povo e as forças
populares vão exercitar a política e a sua força real para poder alterar
a correlação de forças? Só nas ruas. Nas ruas no sentido genérico - nas
greves, nas ocupações e nas pressões aos órgãos públicos”, conclama.
“Elegemos a presidenta Dilma para avançarmos em direitos sociais, na
distribuição de renda, nos programas sociais como o Minha Casa Minha
Vida, na reforma agrária, na educação. Estamos dispostos a ir pra rua
sim, para defender nossos direitos, defender o modelo de desenvolvimento
que distribua renda, eleve emprego e eleve o crédito da classe
trabalhadora”, declara Rosane Silva, secretária nacional de Mulheres da
CUT. “Nós dos movimentos sociais, de forma organizada e unida queremos
mostrar para esse governo que existe sim saída para essa crise econômica
e não é com ajuste fiscal recaindo na classe trabalhadora, mas sim, com
a taxação do grande capital”, esclarece.
Representando a CUT Nacional, além de Rosane Silva, também estiveram
presentes os dirigentes Daniel Gaio, Jandyra Uehara, Julio Turra e
Valeir Ertle; a presidenta da CUT Paraná, Regina Cruz, e diversas
lideranças e militantes das Estaduais, ramos e sindicatos CUTistas.
Ao final da Plenária, a Frente Brasil Popular lançou o MANIFESTO AO POVO BRASILEIRO (clique aqui para ler a íntegra do documento).
Confira abaixo os principais pontos defendidos:
1.Defesa dos direitos dos trabalhadores e das
trabalhadoras: lutar por melhorias das condições de vida do povo, o que
envolve emprego, renda, moradia, educação, terra, transporte público
etc. Criticar e fazer ações de massa contra todas as medidas de política
econômica e “ajuste fiscal” que retirem direitos dos trabalhadores e
que impeçam o desenvolvimento com distribuição de renda.
2.Defesa dos direitos sociais do povo brasileiro:
lutar contra a redução da maioridade penal, contra o extermínio da
juventude pobre das periferias, pela ampliação dos direitos sociais que
estão ameaçados pela campanha da mídia burguesa e por iniciativas
conservadores no congresso.
3.Defesa da democracia: não aceitar nenhuma tentativa
de golpe e retrocesso nas liberdades. Para ampliar a democracia e fazer
reformas mais profundas, avançar na luta pela reforma política, pela
reforma do poder judiciário, dos meios de comunicação de massa e da
cultura.
4.Defesa da soberania nacional: o povo é o verdadeiro
dono do petróleo, do pré-sal e das riquezas naturais. Impedir a entrega
de nosso petróleo às transnacionais. Lutar contra a transferência de
bilhões de dólares ao exterior, de forma legal pelas empresas ou ilegal,
por contas secretas (vide caso do HSBC).
5.Lutar por reformas estruturais e populares como a
reforma política, urbana, agrária, tributária, educacional etc., entre
outras propostas detalhadas no documento unitário construído pelos
movimentos populares em agosto de 2014.
6.Defesa dos processos de integração latino-americana
em curso, como Unasul, Celac, Mercosul e integração popular, que
estão sendo atacados pelas forças do capital internacional.
O encontro terminou no início da noite, com a leitura do Cordel da
Frente Brasil Popular, uma poesia de construção coletiva feita durante a
conferência. Clique aqui para ler.
Participam da Frente Brasil Popular
CUT, sindicatos CUTistas e movimentos sociais em Minas Gerais, CTB,
MST, Via campesina, MPA, MMC, MAB, MAM, MCP, FUP (Federação Única dos
Petroleiros), CONEN, UNE, Levante Popular da Juventude, FNDC (Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação), Consulta Popular, Marcha
Mundial das Mulheres, Rede de Médicas/os Populares, Associação de Juízes
pela Democracia, RENAP, SENGE-Rio, Sindicato de Professores,
Metalúrgicos do RS, Pastorais Sociais, igrejas, Central de Movimentos
Populares-CMP; parlamentares e dirigentes de diversos partidos e
correntes partidárias, entre os quais o PT, o PCdoB, o PSB e o PDT.
Também participam diversos intelectuais e jornalistas que atuam em
diferentes espaços da mídia popular e que compartilham desse esforço.
Fonte: CUT/Nacional
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